FISSURA
As fissuras labiopalatinas acometem, em média, uma criança a cada 700
nascimentos. Com freqüência esta deformidade não cursa isoladamente, podendo
ser acompanhada de outras malformações.
Na maioria das vezes, os pais chegam até nós, referindo total
desconhecimento sobre o assunto, e a primeira reação da família ao tomar
conhecimento de que o seu filho nasceu ou nascerá com uma fissura labial ou
labiopalatina ou palatina, é de desespero; justificável apenas pela falta de
conhecimento a respeito do assunto. A falta de informação, causada
principalmente pelo reduzido número de Serviços Médicos que cuidam desta
deformidade congênita, invadem de perguntas a mente dos pais, ainda chocados
com o acontecido.
Logo vem à cabeça dos mesmos, cenas de preconceito e de gozação de que
eventualmente seus filhos poderão vir a ser alvo no convívio social, por
causa de defeito tão visível. Está no rosto! Como escondê-lo? Como
camuflá-lo? Tem tratamento? Até onde vai o resultado possível? Qual é o
tratamento inicial? Por onde começar? Como vamos alimentá-lo? Etc. São
reflexões e perguntas que os pais se fazem de imediato.
Baseado neste contexto, e com o intuito de oferecermos uma orientação básica
inicial aos pais, reunimos algumas perguntas mais freqüentes que estes nos
fazem, com o propósito de esclarecer, e conseqüentemente, acalmar os
familiares do nosso pequeno paciente. Procuramos utilizar ao máximo, uma
linguagem não técnica, na medida do possível, para que todas as pessoas
possam entendê-la.
Os resultados de pacientes aqui apresentados, são uma amostra do que pode
ser feito atualmente em prol da reabilitação do paciente portador de fissura
lábio-palatina, não significando, portanto, que todos os casos evoluam da
mesma maneira. Várias são as variáveis envolvidas na evolução do tratamento,
e procuraremos esclarecê-las no desenrolar da leitura deste.
Existem várias técnicas e cronologias as mais diversas para o tratamento
destas deformidades, e não é nosso objetivo e nem teria sentido tratar de
todas elas aqui. Assim, vamos expor aquela que achamos a mais adequada para
a obtenção do resultado ideal, oriunda de nossa experiência tratando destas
deformidades desde 1988.
Finalmente, é muito importante ressaltar que muitos pacientes portadores de
fissuras labiopalatinas ou palatinas isoladas, podem também ser portadores
de outras anomalias associadas, as chamadas “Síndromes” que significa
associação de deformidades (48). O assunto é muito vasto, controverso e
ainda carecendo de muitos esclarecimentos científicos. Por esta razão, este
é um texto que leva em consideração o tratamento de portadores de fissuras
labiopalatinas isoladas, sem síndromes associadas.
O que é uma fissura?
De forma simples e direta, uma fissura pode ser definida como uma abertura
em uma parte do corpo, aonde ela normalmente não existe. O lábio, que é uma
estrutura contínua, pode apresentar-se descontínuo. A mesma coisa pode
acontecer com o palato, que no seu normal é fechado e separa a cavidade oral
da nasal. Quando ele apresenta-se fissurado (ou fendido, dividido ao meio,
aí incluindo a úvula (a “campanhinha”)), estas duas cavidades desaparecem
tornando-se, anormalmente, uma só. O lábio superior é o mais acometido, mas
também existem as fissuras de lábio inferior, muito mais raras.
E qual(is) a(s) conseqüência(s) disto?
São Várias. A primeira a ser sentida pelo nosso pequeno paciente, é a perda
da sua força de sucção, dificultando a sua alimentação, seja ela diretamente
no peito ou através de mamadeira com bico ortodôntico de silicone. O leite
materno é a prioridade absoluta (aliás, independentemente do bebê ser ou não
fissurado). Caso o bebê não consiga mamar diretamente no peito, este deverá
ser ordenhado e oferecido em mamadeira, que são mais aceitas pelos
pacientes. A posição correta para alimentar o bebê, é a posição
semi-sentada. A entrada de alimento na cavidade nasal é outro fator de
desconforto para o nosso pequeno paciente.
Outra conseqüência danosa é a possibilidade do aparecimento de infecções de
ouvidos (as chamadas otites), pois, sem a proteção do palato, o conduto que
comunica normalmente o ouvido à garganta (denominado de trompa de Eustáquio),
fica exposto aos alimentos ingeridos pelo paciente, propiciando o
aparecimento da infecção.
Caso o palato não seja fechado, o paciente terá problemas na fala (como por
exemplo, a vulgarmente conhecida como fala “fanha”), com graves
conseqüências para a comunicação e a vida social do paciente.
As fissuras podem ocorrer em vários locais na face. Algumas são raras, e
ocorrem em locais que não correspondem às linhas de fusões embriológicas,
como as fissuras próximas aos olhos, às bochechas, e até mesmo nos cantos da
boca.
|